segunda-feira, 21 de março de 2005

A bisga...

Certo dia, ao fim da tarde, saí do emprego (quando ainda trabalhava na baixa do Porto) e fui para a tradicional paragem do autocarro. Cheguei lá, o autocarro já lá estava, e alguns passageiros já tinham entrado. Quando me dirigi ao lugar que costumava ocupar normalmente, ele estava ocupado por um indivíduo com um aspecto de arrumador em dia de azar. E bom, eu achei que aquela zona devia estar interdita e então passei para outra localização ligeiramente mais atrás e do lado contrário ao do indivíduo.
Um ou dois minutos depois, enquanto olhava para as montras do meu lado da rua em plena Avenida da Liberdade, junto à câmara do Porto, começo a ouvir um ruído bem estranho, como que um motor de sucção, e olhei para o lado de onde ele vinha. Reparei que realmente o ruído vinha do tal indivíduo, que estava a puxar uma bisga (vulgo escarro), bem do fundo das fossas nasais enquanto olhava em volta para as pessoas que estavam nas redondezas, como quem dizia “ora bem, isto é uma coisa normal e eu paro já”. Ele demorou uns valentes segundos a puxar aquilo tudo, e repentinamente parou o ruído: a boca dele estava cheia, mesmo com aquele aspecto de quem não consegue suster nem mais um segundo a respiração. De seguida olhou para o vidro e levantou-se. Abriu a janela do autocarro, apanhou um pouco de balanço e vai de mandar a bisga fora. Ora, uma bisga que devia pesar umas gramas valentes não deve ser coisa fácil de arremessar, coisa que apenas os campeões devem conseguir, e ele não devia ser campeão. Quando ele arremessou a bisga, aquela massa (e agora começa o nojo total… nojo a ponto de 50% dos passageiros ficarem com cara de vómito… os restantes 50% não viram aquilo) abriu como se fosse um pára-quedas, e fios pendiam entre ela e a boca do indivíduo, e passou apenas a dois ou três centímetros de um carro que subia a rua (se tivesse acertado o senhor podia deixar secar aquilo e usar como toldo).
Quando o indivíduo se chegou atrás após o arremesso os fios de bisga ficaram colados no vidro, e ele muito atrapalhado apressou-se a limpá-los com a manga da camisola, mas o efeito não foi bem o que ele esperava, porque em vez de limpar, ele apenas espalhou tudo aquilo pelo vidro, que ficou num estado… nem consigo descrever. Toda a gente que se sentava naqueles lugares perto do vidro, acabava por desistir e mudar de banco.
Desde esse dia, de cada vez que ouço aquele som de motor de sucção a puxar uma bela bisga, fujo o mais rápido que posso, e nos autocarros nunca mais me encostei a um vidro.

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